quarta-feira, 1 de dezembro de 2010






















FOME CALADA

A fome anda nas ruas,
da tristeza faz companhia.
A esperança perde a força ,
o sonho morre sem poesia.
Cresce-nos o desejo no pranto.
A revolta estende seu manto,
despertando do desalento,
que mergulhámos todos nós,
até a raiva erguer a voz!


A voz do povo que sente,
esta agonia crescente,
que estrangula a nação.
Se agiganta o fantasma,
de uma nova revolução.
Podem calar a palavra!
Podem ignorar a poesia!
Podem esconder a verdade!
Podem usar de heresia!
Até a repressão de novo,
Mas não matam a vontade,
quando esta nascer do povo!

M. Fátima Gouveia
O voo da Garça
(suj. a direitos de autor)

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

























ESSES AMORES...
Esta noite lembrei o sabor dos beijos,
navegando contigo em secretos desejos, 
 acorrentados à memória do passado.
Lembrar amores antigos desgovernados,
é como desfolhar rosas, matar sonhos...
Nosso espírito volteia no tempo e na ilusão,
transformando doces quimeras em paixão.
Um sentimento que corrói o nosso direito,
 a voltar a sentir outra emoção igual.
Porque a metamorfose dessa doce mentira,
nessa excitante verdade…
Nos faz cativos dela para a eternidade.

M. Fátima Gouveia

O voo da garça
(suj. direitos de autor)
M.Fátima Gouveia

domingo, 5 de setembro de 2010

FRAGMENTAÇÃO

















Esta dualidade que me perturba o ser
Que me sufoca no cenário negro
duma consciência desapertada

Esta dualidade que me ceifa a alma
Na exiguidade imperceptível do sentir
uma navalha invisível cortar-me em dois

Esta dualidade que brota em mim
Quando o vórtice emerge sanguíneo
Na revolta de ser o que não consinto
ninguém mais ver.

O voo da Garça
(Suj. a direitos de autor)
M.Fátima Gouveia

sábado, 22 de maio de 2010


QUEM SOU EU?

Nem eu própria sei…
Espírito errante, sonhador,
elemento, corpo de desejos,
mistério que a vida encerra
Cai a lágrima, canta da ave,
salta a pedra, sobe a hera,
tão puro é o ar da Serra!


Mas eu… quem sou?
A Mãe Terra me abraçou,
fez comigo uma aliança,
mostrou-me o cerne da vida,
em troca da minha infância,
para sempre fiquei cativa,
perdida na bruma do tempo,
entre grades de cristal.
Do sagrado oculto, sou guardiã!


Não me perguntes… quem sou,
quem me dera, poder saber…
Tenho asas plantadas no corpo,
e penas cravadas na alma,
que ninguém consegue ver.
Sou o veículo, a essência,
de quem me revela o segredo,
voando na sombra do medo, 
chorando a própria existência!


Maria Fátima Gouveia
 

O VOO DA GARÇA
(suj. direitos de autor)








                                            
FILHOS DE MADRUGADA


Sopra o vento, corre o tempo,
Desce brumosa a madrugada,
Arrasta consigo a confraria,
Dos espíritos réprobos, condenados.
Uivam inquietos, os cães danados...
Oculto na brecha duma senda,
A vingança canta sua baixeza,
Mata o tempo, atentando sons,
Nem frio, nem cansaço o arreda.
Passos alvoraçam-lhe o alerta,
Sorri de escárnio, cessou a espera.
Rasga o escuro, o brilho da lâmina,
arroja o golpe pérfido com destreza.
Um gemido abafado mal se solta.
Tomba o corpo, cospe o biltre,
no sangue que se alastra no chão.
Aplacado ajusta o cinto pelo caminho.
Na curva do trilho, treme assustada,
a ruiva de cócoras, de corpo roliço,
que à necessidade deu sumiço,
cala-a o medo, cega-a prudência.
É assim o pacto da existência,
entre os filhos da Madrugada!

Maria Fátima Gouveia

O voo da Garça
(suj. direitos de autor)
















LOUCURA

Quero ser livre, quero voar
Para o outro lado do tempo
Onde habita o pensamento
Onde flutuam os sonhos
As tristezas não nascem
Não nos fazem chorar
Do outro lado do tempo
Subimos a escada da vida
Tão depressa como o vento
Lá as verdades não traem
Nem as mentiras magoam                       
Não há dor, nem lamento
Os espíritos livres, voam         
Desenhamos com o sol
E tecemos com o luar
Somos donos da Terra
Somos senhores do mar
Quero ser livre, quero vooar...

Maria de Fátima Gouveia

O VOO DA GARÇA
(suj. direitos autor)












SAUDADE

Tenho saudade…

Do que vivi e do que não vivi,
do que fui e não cheguei a ser,
do que sonhei e não concretizei,
do que aprendi e já esqueci.
Da menina que já não sou,
com a frescura de outrora.
Das ilusões que foram embora...
Há! Se eu pudesse voltar atrás,
colhia sorrisos de toda gente,
bailava alegre ao som tangente,
em devaneios de amores vadios.
Aquecia-me ao calor de beijos,
atrevia-me a todas as fantasias,
ignorava as taras ou manias,
que vivessem ao meu redor.
Porque a vida é um bem maior,
que se perde minuto a minuto,
de súbito, temo-la tão curta,
que nem dá para sonhar.
Gasta, em utopias e pretensões,
desânimos, desatinos, e paixões,
num vertido louco sem fim!
Ah! Como tenho saudade…
Saudade até das lembranças,
que o tempo rouba de mim!

MARIA FÁTIMA GOUVEIA

O VOO DA GARÇA
(suj. direitos autor)




















INQUIETUDES

Hoje decidi passear nos taludes da saudade.
Antigas vivências que permanecem inalteráveis,
num registo para além do meu entendimento.
Porquê? Se atrás ninguém volta. Sinto revolta
pela iniquidade desta lembrança que persiste,
porque fora do tempo nada existe.
Soltam-se esférulas salinas dum mar de angústias,
choro as perdas sofridas na minha existência.
Enquanto alava embriagada na mais pura inocência,
impiedoso o novelo da vida se desenrolava. Impiedoso
e imparável, alvitrando o fim.
Dói esta mágoa que sangra em mim,
eco dum desejo louco de beber da taça da vida,
remoçar este corpo que ainda respira e transpira
de secretos desejos que não ouso confessar,
em que se conjuga o verbo amar.
Abomino este óbice que me devora a memória,
que me dilacera a alma como lâmina afiada
Voluteiam pedaços de esperança que vou perdendo
no pedregoso caminho para a eternidade.
Em divinais idealidades tecidas por cândida ilusão
acreditei que podia desejar tudo, a vida inteira!
Submersa na inocuidade duma compassiva cegueira
a juventude vai-se num sopro, o sonho passa a sufoco,
e a canície dá-nos um nó na vaidade.
Hoje sofro duma ensandecida saudade
do meu corpo jovem de pele lisa a cheirar a poemas,
duma esplendorosa beleza comprometida.
Passo a mão pelo meu rosto, sou traslado do desgosto
ainda que no íntimo persista um remanescente gosto,
pela vida.

 O voo da garça
(suj. direitos de autor)

M. Fátima Gouveia















ENSEJO

Ao deitar um olhar profundo para o horizonte,
vejo em toda a plenitude a planície, além o monte.
No céu as nuvens negras que se agitam
na promessa dum violento temporal.
Espero num ensejo divinal,
que uma bátega de água refresque a aridez quente,
que sufoca as raízes do meu pensamento.
Quero que chova em mim lágrimas de vida,
como as que alimentam a natureza,
com quase a certeza que germinarão temas,
para compor meu jardim de poemas.

O voo da Garça
(Sug. direitos autor)

M. Fátima Gouveia